Sobre Macacos

Outra vez me deixei persuadir pelos macacos. Eles se penduram nos meus braços, nas minhas pernas, aparecem quando eu menos espero. Caminhando pela rua, perdido em boas sensações, dobro uma esquina e um deles salta na minha frente, atirando pedras, fazendo barulho. Navegando pela internet, procurando vídeos de cachorros filhotes tentando beber água de um pote grande demais, surge a imagem de um gorila raivoso, batucando o próprio peito, apontando para mim, dizendo que saltará da tela e me estrangulará.

Tentei ser resiliente. Afinal, os macacos acontecem para todos. Eles vivem em nós. Endireitei a postura, endureci o queixo e disse para mim mesmo: nenhum macaco me distrairá. Mas é uma negação. Eles prosseguem puxando meu cabelo e mordendo minha orelha.

Exausto, abatido, derrotado, tomei uma atitude radical: fiz uma pergunta para o macaco mais próximo: “o que você quer?” Ele disse: “Eu quero que você me desenhe”.

Trato feito. A partir de agora, sou desenhista de macacos.


Como a maior parte dos humanoides, carrego o fardo daquilo que os budistas chamam de “mente de macaco” – pensamentos que pulam de galho em galho, parando apenas para se coçar, cuspir e guinchar

Elizabeth Gilbert

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